sábado, 23 de agosto de 2008

Textos que Ensinam I

Igualdade Sexual

Martha Medeiros

A notícia foi transmitida através de um site: uma norueguesa de 23 anos foi condenada a nove meses de prisão por ter violentado sexualmente um homem. Como é que é? Vamos aos detalhes: o homem estava deitado num sofá, no meio de uma festa. Totalmente apagado. Horas depois, acordou com uma mulher estranha fazendo sexo oral nele.

Quando li a notícia, dezenas de frases acorreram à minha mente de forma automática: ah, o cara não é chegado, o juiz foi severo demais, a maioria dos homens que eu conheço agradeceria este final de noite inesperado.

O machismo - à moda Severino - tomou conta do meu cérebro, e só aos poucos fui conseguir avaliar a situação mais sensatamente. Por que um homem tem que achar sempre maravilhoso que uma mulher lhe preste homenagens desse tipo, mesmo quando não houve consentimento? E se o cara é casado e a esposa estava na festa? E se a situação o constrangeu? E se simplesmente não estivesse a fim, por acaso não teria o direito? Agora, a pergunta mais importante de todas: e se fosse ela quem estivesse desacordada no sofá e ele prestasse a mesma "homenagem" sem pedir licença? Aí mudaria totalmente de figura, é o que argumentaríamos.

Pois o juiz norueguês resolveu, numa atitude inédita naquele país - e creio que no mundo todo -, que não muda de figura coisíssima nenhuma. Se um homem praticasse sexo oral numa mulher desacordada, seria considerado um ato de violência. Por que o contrário não deve ser também? A Escandinávia é a região do planeta onde a igualdade de direitos entre os sexos está mais desenvolvida. Em países como Suécia, Dinamarca e na própria Noruega, os homens têm direito a uma longa licença-paternidade e mulheres têm uma vida sexual livre e sem patrulha, pra citar apenas dois exemplos desse igualitarismo, que ainda não é total, porém bastante avançado. O que o juiz fez foi levar esta igualdade ao pé da letra, rompendo com algumas "tradições culturais", como a que sustenta que mulheres podem se negar a praticar sexo, mas homens devem estar sempre a postos. Ousado esse juiz. Deu um passo importante para refletirmos sobre o assunto, ainda que essa sentença seria totalmente impensada no Brasil. O violado que levasse o caso à Justiça seria apedrejado em praça pública aos gritos de bo-io-la, bo-io-la. Ela? Capa da Playboy no dia seguinte.

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